quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Capítulo Três.


Mantive a mão a tapar a boca, levando depois a outra a fazer o mesmo, com alguma força, sentindo o chão a estremecer ligeiramente com os passos. Parecia que vinha naquela direcção, viria certamente atrás de mim. Rapidamente gatinhei até à cama e escondi-me debaixo da mesma. Pouco depois os passos pararam, e eu suspirei. Mordi o lábio, pensando que já tinha passado, mas foi então que começou alguém a bater à porta, com alguma força, tentando também abri-la. Espreitei, olhando para a porta e quando a vi a ser arrombada, voltei a esconder-me bem debaixo da cama, encolhendo-me e tapando a boca para que aquela coisa não me ouvisse. Fechei os olhos com força e deixei-me ficar ali.

Ouvi um zunido que me despertou. Fiz uma careta, ainda meia a dormir, e aconcheguei-me melhor debaixo do lençol e dos cobertores. Suspirei pesadamente porque afinal o zunido não parava e acabei por abrir os olhos. Alcancei o telemóvel que vibrava sobre a mesa-de-cabeceira e com algum custo olhei para o ecrã do mesmo. Carreguei na tecla verde e deitei-me de lado, deixando o telemóvel sobre a orelha de modo a que eu não tivesse de o segurar e de modo a que não caísse. - Estou? Estou?! - Consegui ouvir uma respiração ofegante que depois foi diminuindo e terminou, assim como a chamada. Revirei os olhos por ter sido acordada em vão e depois pus o telemóvel em cima da cama, ao meu lado. Como já estava desperta, não ia conseguir adormecer novamente. Sentei-me na cama e olhei em redor. Quando olhei para a porta, lembrei-me da noite passada. Quer dizer... Eu lembro-me daquele homem, lembro-me que adormeci na secretária enquanto estava no computador, e depois... Aqueles gritos, aquela coisa que me perseguiu e... Espera, a porta não tinha sido arrombada? Como é que a porta está tão... Intacta? Ou eu estou a dar em doida, ou então foi apenas um sonho extremamente realista. Não, não pode ser. Como ia eu sonhar com uma coisa daquelas? Ainda nem consegui ver os cantos todos da casa, e fui sonhar logo com uma porta tão específica? Existem outras que eu podia ter aberto primeiro. Não pode ter sido um sonho. Mas por outro lado, não há outra explicação. Se não tivesse sido um sonho, a porta estava literalmente destruída. Suspirei pesadamente com os meus pensamentos e tentei enxotá-los apressadamente. Abanei a cabeça e saí então da cama, dirigindo-me à casa de banho.Depois de fazer as necessidades, liguei a torneira da banheira e temperei a água. Despi-me calmamente e ainda me olhei ao espelho, apreciando o meu corpo elegante no mesmo. Sorri e depois liguei o chuveiro e entrei na banheira, fechando então a cortina da mesma. Lavei primeiro o cabelo com o meu champô, duas vezes, e depois com o condicionador. Depois disso, peguei no sabonete e lavei o meu corpo, calma e cuidadosamente. Assim que terminei, alcancei uma toalha e enxuguei o cabelo. Enrolhei o cabelo na toalha e depois abri a cortina. E assim que o fiz, acabei por gritar, não muito alto.
 - Que susto! O que é que o Elijah está aqui a fazer? - Perguntei eu, ainda de coração acelerado e tom trémulo. Peguei rapidamente numa toalha e tapei-me desajeitadamente. Não sei do que me vale agora, ele já teve tempo de me ver nua.
 - Não é preciso ter tanta pressa em tapar-se, eu estive a apreciá-la enquanto tomava banho. - Disse ele, com um sorriso vitorioso enquanto o seu olhar estava perdido, certamente, nas minhas curvas definidas. Revirei os olhos ao ouvir o que ele disse e acabei por retirar a toalha que tapava grande parte do meu corpo. Quando voltei a olhar para ele, estava só de calças, que lhe assentavam que nem uma luva. Engoli em seco e desviei o olhar. Enxuguei melhor o meu cabelo e de seguida limpei o espelho embaciado, para me ver melhor no mesmo. Mordi o lábio ao ver que ele estava descaradamente a olhar para o meu traseiro. Ri baixinho, de canto, e abanei a cabeça. Amarrei o meu cabelo rapidamente num rabo-de-cavalo e depois peguei novamente na toalha, limpando-me. Assim que terminei, olhei-o. 
 - Vai ficar aí a olhar para mim, Elijah? - Questionei num tom sério, e ao ver que não me respondia, por estar demasiado distraído a olhar para os meus seios, encolhi os ombros e virei-lhe as costas, caminhando para o quarto. Assim que lá cheguei, vesti algo bonito mas bastante cómodo e depois fiz a minha cama. arrumei as minhas coisas e peguei no telemóvel, descendo depois até à sala de jantar.
À medida que descia as escadas já se fazia sentir o cheirinho, provavelmente do meu pequeno-almoço. Assim que entrei na sala, Persephone estava já a servir-me um prato com panquecas, assim como uma pequena taça que continha chocolate e morango, derretidos. Tinha uma cor... de sangue. Sorri-lhe e agradeci baixinho assim que me sentava no mesmo lugar que ontem.
 - Bom dia Persephone. Obrigada pelo pequeno-almoço. Cheira muito bem e tem um ótimo aspeto. - Comentei, enquanto o olhava para o mesmo. Reparei entretanto que não havia prato para mais ninguém. - Você e Uther não tomam pequeno-almoço comigo? - Perguntei curiosa, encarando-a.
 - Não, menina Angelique, nós já comemos. Bom apetite. - Desejou ela, preparando-se para sair daquela divisão. Mas antes que o fizesse, chamei por ela, e aproximou-se novamente de mim.
 - Posso fazer-lhe uma pergunta? - Questionei enquanto mastigava um pequeno pedaço de panqueca que havia cortado.
 - Claro menina, esteja à vontade.
 - Porque é que aquele rapaz cá está? - Perguntei sem grandes demoras, num tom sério enquanto a olhava.
 - Qual rapaz? - Perguntou ela, de sobrolho franzido, como se não soubesse ou não fizesse nenhuma ideia do que eu estava a falar.
 - O Elijah... - Respondi, num tom baixo.
 - Desculpe menina, mas eu não faço ideia de quem você está a falar... Nem conheço ninguém com esse nome. Pode perguntar a Uther quando ele chegar, mas duvido que ele saiba quem seja, senão tinha-me contado. - Afirmou, e depois retirou-se.
Então ninguém sabe quem é o Deus Grego que aqui vive? Como assim? Ele vive aqui e eles não sabem? Ora, isso é mais uma coisa estranha para me chatear a cabeça, só pode. Suspirei pesadamente e depois continuei a comer, devagar, enquanto trocava alguns sms.

Depois do pequeno-almoço, fui levar as coisas a Persephone que estava distraída na cozinha, e depois coloquei o telemóvel no bolso das calças e fui até ao Hall de entrada. Subi as escadas e fui até àquela tal porta, que eu supostamente abri na noite passada. Ou no meu sonho. Suspirei antes de tocar no puxador sequer, e depois aproximei-me. Coloquei a mão sobre o puxador e fiz pressão sobre o mesmo devagarinho. Quando fiz força para a frente, para a abrir, entendi de imediato que ela estava fechada. O raio da porta está trancada, por isso só pode ter sido um sonho. Um sonho estranho, mas foi um sonho. Recolhi a mão e depois voltei para o meu quarto.
Tranquei-me no mesmo, pois apetecia-me estar sozinha. Peguei no portátil mas depois voltei a pousá-lo na secretária. Nem sequer sabia o que me apetecia fazer. Fui até à janela e fiquei a observar a rua, por onde não passava quase ninguém. Depois abri o armário e comecei a ver as minhas roupas. Acabei por fechá-lo segundos depois, e fui à casa de banho. Ele não estava ali. Ele não está em parte nenhuma. Aparece às vezes, sem nada dizer, e desaparece de igual forma.
 - Elijah? Estás aí? Elijah? - Chamei por ele, esperando um bocadinho, por algum sinal. Como não obtive qualquer tipo de resposta, olhei-me ao espelho. Inspirei e expirei calmamente. Ou eu estou a dar em doida, ou já estou doida e nem sei. Ajeitei as minhas roupas e endireitei-me, caminhando depois até ao quarto. Mal passei pela porta da casa de banho, alguma coisa agarrou o meu cabelo e fez-me recuar. Assim que a parte traseira do meu corpo embateu nessa tal coisa, eu percebi o que era.
 - Chamaste-me? - Sussurrou ele ao meu ouvido, ainda a agarrar o meu cabelo, puxando-o um pouco mais, de forma a que ele inclinasse a cabeça para trás, encostando-a assim ao seu ombro. Ou pelo menos eu penso que é o seu ombro. Estou meio confusa.
 - Sim. Eles dizem que não te conhecem. Afinal, quem és tu, e o que estás aqui a fazer? - Perguntei baixinho, com o coração já acelerado. Ao invés de me responder, começou a beijar o meu pescoço. Eu tentei sair das suas garras, mas ele voltou a puxar-me para si. Tem mais força do que eu. - Pára. - Pedi primeiro, baixinho. Contorci-me ligeiramente e mordi o lábio ao sentir a sua mão a percorrer o meu corpo. Irritada, elevei o tom de voz. - Elijah, pára imediatamente! - Ordenei, e de repente senti-o a largar o meu cabelo. Respirei fundo e dei um passo em frente. Quando olhei para trás, não estava ali ninguém. Deitei-me na cama, já um bocado cansada do que estava a acontecer. Embalada nos meus pensamentos que quase me endoideciam, acabei por adormecer.

Acordei estremenhava depois de um sonho esquisito. Estava ainda deitada na cama, sobre a colcha, como tinha adormecido. Tentei mexer-me, mas não consegui. Foi então que percebi que não estava bem como tinha adormecido, como eu pensei. Olhei em redor e vi que tanto as minhas mãos como os meus pés estavam amarrados à cama. tentei soltar-me, mas sem sucesso. Quando vi a porta a abrir-se lentamente, chiando ligeiramente, levantei a cabeça para tentar ver.

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