quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Capítulo Dois.


Engoli em seco enquanto olhava uma vez mais para aquela comida. Primeiro era o Prato de Sopa, que eu nem conseguia bem descrever o que estava bem ali à minha frente. Parecia que tinha um prato cheio de um líquido semelhante a sangue, algumas massas por ali, e bocados de carne... crua. Mordi o lábio e ao perceber que ainda me olhavam, forcei-me a pegar na colher. Olhei-os novamente e esbocei um pequeno sorriso.
- Bom apetite! - Acabei por dizer, da forma mais sorridente e simpática que consegui. Mas eles continuavam a olhar-me com aqueles olhos, como se me pressionassem para comer, a força toda. Enchi a colher de sopa e inclinei-me ligeiramente para a frente, levando-o à boca. De lábios entreabertos, suguei apenas um pouco daquele líquido vermelho vivo, provando então. E fiquei parva comigo mesma, porque sabia bem. Tão, mas tão bem. Aquilo tinha um aspecto terrível, mas era tão delicioso como se calhar um prato de um chef de renome. Sorri e introduzi a colher na boca, bebendo o resto daquele líquido que a mesma ainda continha. Sorri mais ainda ao saborear melhor aquele sabor, sentindo a sopa a descer por mim abaixo até ao estômago. Estava ainda um bocado quente, daí eu ter conseguido sentir tão bem aquilo a descer. Sorri-lhes abertamente e olhei Senhora Persephone. - Isto está ótimo! Uma maravilha! Hmm, eu não sou grande adepta de sopa, e esta é a melhor que já comi! - Disse eu num tom entusiasmado enquanto olhava a senhora. Vi um sorriso enorme a crescer-se-lhe na face, o que me fez sorrir-lhe de forma carinhosa e fazer um pequeno aceno de cabeça. Fiz o mesmo ao Senhor Whitlock e continuei a comer, deliciada.
Depois daquele primeiro prato, seguiu-se um outro. O Prato Principal, que tinha um aspecto horrendo, semelhante ao primeiro. Mas desta vez eu já nem estava tão nervosa, por isso ataquei logo. E mas uma vez, estava tudo uma delícia. Esta senhora é de facto uma excelente cozinheira. Ainda bem que Uther insistiu comigo, para permanecerem a trabalhar aqui. Assim que terminámos aquilo, tivemos direito também a uma Sobremesa. Escusado será voltar a dizer que sabia muito bem. Mal terminei, limpei a boca ao guardanapo de pano elegantemente e afastei o pires de mim. Afastei também a minha cadeira da mesa e olhei-os. - Estava tudo uma delícia, Senhora Persephone. Agradeço-lhe imenso por este jantar maravilhoso que nos preparou. Neste momento até estou muito radiante pela insistência do seu marido em continuarem por cá. Agradeço-lhe por isso, Uther. Mais uma vez Senhora Persephone, muito obrigado pelo jantar. - Agradeci eu, com um sorriso simpático e carinhoso. Mal me levantei, estiquei logo o braço para alcançar os pires e ajudar a levantar a mesa.
 - Nem pense!! - Disse Persephone muito de repente, num tom alto de voz, que me apanhou de surpresa e me fez estremecer visivelmente.
 - Desculpe... Só queria ajudá-la ao menos a levantar a mesa. - Quase murmurei, olhando-a depois. Recolhi a mão e endireitei-me enquanto os meus olhos estavam presos nos seus.
 - Eu sei menina Angelique, mas não é necessário, eu dou muito bem conta do recado. Agradeço-lhe, mas não é necessário. - Informou ela num tom mais calmo e bastante simpático, com um sorriso a condizer.
 - Pronto, então se o diz, tudo bem. Sendo assim eu vou lá para cima para o meu quarto tratar de umas coisas, sim? - Olhei-os e fiz um aceno de cabeça, virando-me depois para a porta por onde tinha entrado.
 - Ah, menina... - Ouviu-se a voz máscula de Uther, que ecoou pela sala. Pouco depois, continuou. - É melhor levar algumas velas lá para cima. Eu sei que temos electricidade, mas acontece várias vezes ficarmos sem luz devido ao mau tempo e assim... Espere aí só um pouco que eu trago-as já. - Levantou-se da cadeira e foi logo a uma pequena divisão, e de lá trouxe uma cesta que tinha algumas velas e suportes para as mesmas. Via-se na perfeição que eram antigos, mas eram todos trabalhados e muito lindos. Sorri docemente mal os vi e assim que Uther me estendeu a cesta eu peguei nela cuidadosamente. Depois de lhe agradecer, saí então daquela sala.
Para subir as escadas, eu tinha de voltar à zona do hall de entrada, que eu já conhecia. Ou pelo menos penso que conheço. Se esta casa tem atalhos como Persephone referiu, então parece-me que eu não sei de quase nada. O silêncio que se fazia ali tornava-se ligeiramente assustador. Especialmente porque ao menor barulho, tudo se ouvia. Eu tinha umas botas de salto alto calçadas, mas a sola era de borracha, o que fazia menos barulho, felizmente. Ao passar pelo espelho grande, não resisti em aproximar-me e observar-me no mesmo. Sorri abertamente pela felicidade que eu sentia naquele momento e ajeitei os meus longos cabelos, os que estavam soltos. Acabei por retirar o elástico que prendia o cabelo num rabo-de-cavalo e sacudi-o rápida e desastradamente. Sorri ao ver-me toda despenteada.
De súbito, ouvi uma espécie de gemido. Arqueei o sobrolho enquanto ainda me olhava ao espelho. Virei-me de costas para o mesmo e olhei em redor, mas não vi nada nem ninguém. Fui até à porta que dava para a a sala de jantar, onde tinha estado anteriormente com Uther e Persephone, e espreitei para dentro. Eles estavam ainda a conversar enquanto levantavam a mesa juntos. Suspirei baixinho e voltei para a zona do espelho, perto das escadas. Fiquei quieta e voltei a ouvir mais um gemido. Mas não era um gemido de dor. Era, ou pelo menos parecia um gemido de prazer. Fiquei ligeiramente assustada porque, para além de parecer um homem, eu não tinha mais ninguém em casa. Ou pelo menos pensava que não tinha. Devagar, dirigi-me às escadas e subi-as devagarinho. Os gemidos tornaram-se mais audíveis, e eram claramente de prazer. Segui os barulhos, movimentando-me da maneira mais silenciosa possível e acabei por perceber que vinham do quarto que eu tinha escolhido como meu. Engoli em seco ao ver a porta quase encostada e abri-a, devagarinho, observando o meu quarto. Não vi ninguém. Voltei a franzir o sobrolho e entrei pelo quarto adentro enquanto ainda olhava para um lado e para o outro. Os gemidos tinham acabado de repente assim que eu entrei. Fui devagarinho até à casa de banho e ouvi uma porta a fechar-se. Estremeci com o susto e acabei por finalmente ouvir a água a correr, e vapor a sair de lá. Mas como é que eu não ouvi ou vi isto antes? Abri lentamente a porta da casa de banho que estava também quase encostada e os gemidos retornaram, até um mais intenso, semelhante a um orgasmo intenso. Eram meio roucos e arrastados, um tom de voz quase sensual, que me seduziu de tal forma que eu acabei por me aproximar da banheira e abrir a cortina da mesma. Assustei-me novamente ao vê-lo de costas para mim, com a mão esquerda na parede para se apoiar, e a outra parecia estar, talvez, no seu membro. Como ele estava de costas eu não conseguia ver. Só sei que ali fiquei, a apreciar o tal homem que estava na minha banheira. Cruzei os braços ao peito e fiquei à espera que ele desse pela minha presença. Depois de desligar a água, ele virou-se finalmente para mim, sorridente. Acabei por olhá-lo de baixo para cima, em vez de ser ao contrário. Nem parecia meu.
 - Olá. - Proferiu ele, naquele tom de voz sensual e sedutor, algo cansado também, provavelmente devido ao que ele esteve a fazer.
 - Olá. Você é...? É que eu mudei-me hoje para cá e que eu saiba a casa é minha, e não vive aqui mais ninguém. - Disse logo, tentando manter uma postura correcta e séria, tentando também e sobretudo não olhar muito para... Baixo. Engoli em seco ao observá-lo a sair da minha banheira enquanto me olhava sorridente. Provavelmente por eu estar a olhá-lo ou a tentar apreciá-lo discretamente. Ele não pegou numa toalha sequer para se cobrir. Ficou nu à minha frente, a olhar-me. Colocou as mãos na sua cintura, uma de cada lado.
 - Peço imensa desculpa. Pensei que ia adorar ter aqui um Deus Grego só para si. - Afirmou ele, com um sorriso perverso. Eu mordi discretamente o lábio e não resisti mais. Acabei por olhá-lo de alto a baixo, descaradamente. Engoli em seco e suspirei. Lá nessa parte do Deus Grego ele tinha toda a razão.
 - Ainda não me disse quem é. - Proferi num tom de voz mais baixo, com os meus olhos presos aos seus abdominais excelentemente definidos e trabalhados. Com algum custo, o meu olhar voltou até ao seu rosto.
 - Elijah Grayson. E a bela donzela, como se chama? - Perguntou, aproximando-se de mim. Eu recuei à medida que ele caminhava em direcção a mim e acabei por bater no lavatório, com o rabo, o que me fez, obviamente, parar de fugir dele. Rapidamente me alcançou e levou a sua mão à minha face.
 - Angelique. - Disse apenas, olhando-o nos olhos enquanto sentia o toque da sua mão, macia e ainda molhada. Engoli em seco e fugi dali desajeitadamente, indo logo para o quarto. Antes que ele viesse logo atrás de mim, fichei a porta da casa de banho. - Primeiro vista-se, depois é que sai daí. - Falei num tom alto, de modo a que ele ouvisse bem o que eu tinha dito. Depois afastei-me da porta e fui até à secretária, onde já lá tinha o meu portátil. Sentei-me na cadeira e carreguei no botão para ligar o aparelho. Assim que pude, abri o Google Chrome e fiz umas pesquisas. Só me lembro de me sentir cansada, de bocejar e esfregar os olhos.

Fui acordada por uns gritos. Abri os olhos sobressaltada e vi que tinha adormecido. Levantei-me da cadeira e espreguicei-me. Estava sozinha, no meu quarto. Ao ouvir novamente um grito, dirigi-me à porta e abri-a rapidamente. Descalça, percorri o corredor rapidamente, seguindo os ruídos e gritos. Quando abri a porta, de onde julguei que vinham, deparei-me com algo estranho. Primeiramente senti-me tão aterrorizada que voltei a fechar a porta e recuei rapidamente. Fugi, a sete pés dali. Corri o mais rápido que conseguia para o meu quarto e tranquei-me lá. Encostei o ouvido esquerdo à porta e fiquei calada. Mal ouvi passos, pesados, tapei a boca e arregalei os olhos. era melhor eu não fazer nenhum tipo de som.

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